domingo, 29 de setembro de 2013

Uma tolice a contar

Quando estás na janela e põe-se a pensar;
Quando lê, na biblioteca, uma página qualquer de um livro abstrato;
Quando atravessa a rua e pega um café;
Quando branda que quer viver sozinho;
Quando almeja ser maior;
Quando perguntas o preço do cinema;
Quando faz a cara de gato assustado;
Quando se inflama de ardor...
Sou eu, eu, quem estás a correr,
A procurar,
A amaldiçoar,
Como a uma bruxa má fantasiada de anjo caridoso...
Sei...
Contudo, que o que estás apenas a desejar
É essa mania tola de me beijar.

                        [Abraços a reconfortar]

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Fadiga

Nunca descanso de ti,
Te quero sempre
E a tua presença distante
É uma fadiga gratificante
Que eu já eu não canso de esperar, esperar, esperar, esperar, esperar...
Até perder de vista todas as esperanças
Porque já é tão desesperançoso te ver tão longe
Onde meu amor não te alcance
A não ser através de versos,
Tão poluídos
E sem sentido...
Sem sentido como esse "sentir"
E essa mania que tenho de ti
E a fome que abrange todo teu ser,

Que já não é mais tão meu quanto ontem.

domingo, 22 de setembro de 2013

Vou-me atirar ao paraíso dos amores doces e ociosos... Cantigas pt. 1

Abri a janela para assistir o dia a chorar,
E fiquei a esperar
Uma ligação,
Uma notícia,
Tua.
Qualquer besteira;
Qualquer bandalheira;
Que viesses correndo,
Feito louco,
E me roubasse,
Me sequestrasse,
Mas me levasse
                      [com vancê]


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Love&Caring

Andando pelas ruas, paro e ouço, disfarçadamente, o relato de uma jovenzinha, de olhar distante, sobre sua mais nova paixão:

"Tenho sentido tanta saudade que me pergunto se esse amor não está me deixando doente ou meio afetada mentalmente.
Fico rindo toda boba, nas ruas, em frente às praças, pros cegos a quem ajudo atravessar as alamedas...
Me sinto mais leve e feliz e me pergunto se isso é real de tão surreal que é essa sensação.
Teu amor me consome de um jeito gostoso, leve e ocioso e me sinto levada por braços imperceptíveis até o teu caminho.
Como alguém já disse: 'que teu afeto me afetou isso já é fato'."

Ela ensaia uma declaração, as amigas aplaudem e me pergunto se esse sentimento tão comum, que é a paixão, torna-se incomum ao tratarmos daquela guria que parecia tão feliz e anuviada, com espasmos de alegria e olhares acentuados...?
Quisera eu saber o resto da história, mas não trato de um oráculo e a vida corre e não podemos deixa-la escorrer entre as mãos aguardando pela dos outros.
Cazuza já disse: o tempo não para. Tratemos, por favor, de prosseguir.
Então, eu prossigo minha caminhada e as garotas, às minhas costas, a rir, na maior gandaia.

Foolish

Ela é feliz.
Sim, ela é.
Veste a máscara da tristeza,
Rola na relva.
Grita.
Faz-se.
Joga-se com manha nos braços de outrem
E suspende o ar como quem jaz morto, ferido de bala.

Eu a olho.
A espanto.
A odeio.
E sinto pena.

Pena?
Pois sim.
Ela trata a vida como a uma novela,
Carecida de telespectadores
Seu teatro é insosso se a casa está vazia e despe-se da maquiagem grotesca de moça medieval sofredora.
Trata da morte como a um tema joliz,
Mas estremece perante ela, tão obscura e irreversível...

Liga embebida,
Putrefa em embriaguez lânguida,
Usa a voz embargada
E pede pouco
Pra ganhar muito...
Finge-se de tola
Para que sobressaia.

Quebra afetos,
Rompe relações
E sorri como jovem inocente,
Toda alegre
Jovial
E intocável.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O mundo é grande

"O mundo é grande e cabe
Nesta janela sobre o mar
O mar é grande e cabe
Na cama e no colchão de amar
O amor é grande e cabe
No breve espaço de beijar."

Drummond, Carlos.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Meu nome não é Arabella

São nestes momentos - repletos de tormenta - que a veia artística aflora.
São nesses momentos de inconstância e loucura que a poesia se engrandece.
Talvez seja porque a felicidade plena seja puro lirismo e a turbulência um emaranhado de palavras enigmáticas.
Somos permeados pela dúvida e eu - oras! e quem mais o deixaria em tal estado de letargia? - te deixo em dúvida!
Sou uma amante cruel, me refugiando em palavras rebuscadas que te deixam transtornado, desfeito em emaranhados, com a tez enrugada, expressando dúvida e um pouco de decepção... ou, ainda, muita decepção!
Mas, amor, não me julgue! Sou uma jovem amante!
Descomposta, repleta de dúvidas - e dívidas - e, também, muito amor.
Queria lhe prometer felicidade, mas, antes, tens de lidar com a minha ambiguidade.
Então, me perdoe, amor, se não sou Arabella e se meu lirismo é superficial, descompassado e confuso. Apenas saiba, amor, que esses versos brancos não são tão brancos quanto tuas costas revelam ser.

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