Lado Negro do País das Maravilhas, 20 de setembro do ano vigente.
Amado Chapeleiro Maluco,
Primeiro
gostaria de dizer-lhe que o invejo por uma série de fatores: por seres homem,
pela sua inteligência, por escreveres bem, pelo teu foco e objetividade; por
“pensares”.
Quando
me olho no espelho e penso no nosso “contraste”, vejo que na maioria das vezes
a maluca da história sou eu e não você. Afinal, é a minha pessoa quem faz tudo
às avessas. Por exemplo, sou eu quem está te enlouquecendo aos poucos, mas sei
que no fundo você aprecia essa quebra de rotina.
Posso
dizer que me sinto – muitas vezes - um corpo à parte nessa colmeia gigantesca
(ou sociedade, como preferir, meu doce). Também queria que a pele fosse como um
vestido de gala que eu pudesse tirar e trocar a qualquer momento, pois talvez
assim eu não enjoasse de mim mesma, nem tivesse essa necessidade de mudar de
aparência (o que nem sempre o agrada, eu sei) constantemente. Na verdade, nem
sei por que enjoo de mim mesma, mas acho que talvez seja o fato de achar que
não me encaixo no que projeto pra mim mesma. Sabe, coisas de minha cabeça;
repentinas e velozes. Gosto de conceber os pensamentos na imagem de
beija-flores, que são velozes e gostam de sorver apenas o que há de doce,
embora nem sempre os pensamentos tenham esse sabor; essa configuração.
Estou
procurando refletir sobre o que eu sou, mas esse campo é muito flexível.
Todavia, sei que não é inseguro, mas apenas “modelável”; e “modelável” por um
tempo determinado, pois a cada momento que transcorre sinto que esse “chão” de
goma de mascar torna-se um pouco mais sólido. O que você acha? Dê-me sua
opinião.
Ah,
quase que me esqueço de lhe comunicar: estou seguindo seus conselhos. Estou me
contendo, pois você tinha e tem razão quando fala que não tenho autocontrole e
“vomito” as palavras nas folhas. Sei que minha “pena” de escrever não se
resguarda, mas o que posso fazer se ela deseja voar?
Mande
notícias para essa pequena “Pseudo Alice”.
Um forte abraço e um
beijo intenso.